terça-feira, 8 de junho de 2010

Sinopse dos Espetáculos
Toda Nudez Será Castigada
A montagem do espetáculo Toda Nudez Será Castigada do dramaturgo Nelson Rodrigues narra o drama da prostituta de luxo Geni, do rico e casto viúvo Herculano e de seu filho Serginho virgem de 18 anos. Geni (Leona Cavalli), que recebe de Patrício a proposta de seduzir e casar-se com Herculano, que têm conceitos rígidos de vida se envolve com a prostituta provocando uma tragédia. É Geni morta quem narra a tragédia através de uma fita gravada que deixa para Herculano contando seu drama. A partir da narração de Geni, o viúvo vai recriando a história: o virgem Serginho por quem a prostituta se apaixona, o endividado e inescrupuloso Patrício e as três tias solteironas. Um profundo estudo da dramaturgia rodrigueana foi feita com palestras do crítico Sábato Magaldi e o escritor Ruy Castro. A peça é dirigida por Cibele Forjaz. A crítica paulista se entusiasmou com a montagem. Beth Néspoli, do Jornal O Estado de São Paulo, escreveu que: “a Cibele, aliada ao ótimo elenco, consegue recriar a atmosfera da exarcebação dos sentidos proposta pelo autor”. Quanto a Leona, Alberto Guzik do Jornal da Tarde diz: “ela está esplendorosa, esbanja presença de cena, é uma estrela”.
Um Bonde Chamado Desejo

De TENNESSEE WILLIAMS.
Direção: CIBELE FORJAZ.
Com
LEONA CAVALLI, MILHEM CORTAZ,
ISABEL TEIXEIRA, JOÃO SIGNORELLI.

Em cartaz no Teatro do SESC - Copacabana.

     A professora de Literatura Blanche DuBois acaba de chegar ao minúsculo apartamento de dois cômodos da irmã caçula Stella, casada com o viril militar Stanley Kowalski. Com o argumento de estar passando as férias, Blanche surpreende-se com a pobreza do lugar, em nada condizente com o descrito pela irmã nas cartas trocadas pelas duas. Surpreende-se ainda mais com Kowalski, sujeito grosseiro que desde o início demonstra hostilidade para com os hábitos requintados da cunhada e hóspede, com seus trajes caros e demorados banhos. A visita vai aos poucos revelando sua verdadeira razão de ser: com a fazenda da família perdida e atravessando uma crise tanto financeira quanto emocional, Blanche só está ali por não ter mais a quem recorrer, e enquanto recebe todo o apoio da irmã, que a adora, tem de agüentar a antipatia e a desconfiança do cunhado, que não apenas exige que lhe sejam mostrados os papéis da hipoteca da fazenda, mas passa a investigar-lhe o passado. Mas a presença de Harold Mitchell, solteirão bondoso e sensível que, numa das rodadas de cartas na casa de Kowalski, enamora-se da visitante, parece mudar o rumo das coisas e trazer alguma esperança para Blanche, que, após assistir a uma briga violenta entre o casal de anfitriões e descobrir que Stella está grávida, pensa em tirá-la dali, por mais que a irmã insista em que é feliz com o marido. A ambígua personalidade de Blanche, ora frágil, ora sedutora, junto às manchas do passado e o vício pelo álcool, serão novas fontes de conflito a encaminhar a história ao trágico desfecho.

     "A pouca sinceridade que ainda existe neste mundo é por conta das pessoas que já sentiram dor", diz Blanche num dos poucos momentos de ternura deste texto, que trata de sentimentos como culpa, solidão, carência, e do isolamento a que são relegados os malditos na sociedade. Autor de longos e profundos diálogos carregados de amarga sensibilidade, Tennessee Williams conhece bem o universo que escolheu para narrar. Filho de caixeiro viajante que teve de largar os estudos para trabalhar, dado a crises de nervos já na adolescência, homossexual, alcoólatra, testemunha de uma lobotomia sofrida pela irmã (e consentida pela mãe dominadora) que o marcaria pelo resto da vida, Williams alternaria sucessos e perdas, paixões e depressões. Sua obra, repleta de mulheres de personalidade forte, ambíguas, geralmente vítimas dos próprios sentimentos, é marcadamente autobiográfica, ao adaptar para o palco as personagens e vivências que tanto o encantaram e perturbaram, extremamente ousada e irresistivelmente sincera.

     A presente montagem é uma retomada da parceria da atriz e produtora Leona Cavalli com a diretora Cibele Forjaz, responsáveis pelo sucesso, em 2001, de Toda Nudez Será Castigada, de Nelson Rodrigues. Para o texto de Tennessee Williams, a diretora criou um interessante cenário com fitas brancas que erguem-se até o teto, formando as paredes "transparentes" que cercam o apartamento onde se desenrola a ação. Paredes que, quando a vida da protagonista parece não ter mais para onde descer, se retorcem diante da dupla agressão sofrida por Blanche, quando seu passado enfim vem à tona. É um recurso aparentemente simples, porém funcional e instigante, que, junto a seqüências como a do diálogo na penumbra (e outros mesmo na completa escuridão) realçam a carga dramática da história, que sustenta-se basicamente nos diálogos e nas interpretações.

     E é justamente nas interpretações que esse Bonde ameaça sair dos trilhos. Com a peça girando em torno da personagem de Leona Cavalli, fica a impressão de que todo o resto do elenco foi ignorado, inclusive um elemento de grande importância à trama como Kowalski. Interpretado no cinema e no teatro por Marlon Brando, e nos palcos londrinos por Laurence Olivier, a personagem cujo vigor deveria causar desejo e repulsa mal consegue, aqui, fazer rir. O desempenho de Milhem Cortaz chega mesmo a tornar-se constrangedor, principalmente nas cenas após a briga com Stella. O ator parece ter preferido seguir a descrição que Blanche faz de Kowalski, comparando-o a um macaco, do que humanizá-lo. João Signorelli esforça-se por fazer alguma coisa com seu Mitchell ingênuo e sensível, mas termina apagado, o que se evidencia na cena junto a Blanche, quando estão sozinhos no apartamento, ao final. Há ainda outros quatro atores que revezam-se em pequenos papéis que, se não chegam a comprometer o espetáculo, também não se destacam, e há Isabel Teixeira como Stella, essa sim obtendo um excelente resultado ao compor uma mulher cheia de nuances.

     Quanto a Leona Cavalli, a quem a crítica vem dedicando elogios desde Toda Nudez... , sua composição de Blanche DuBois parece mais uma adaptação à sua própria figura ou personalidade. Afirmando ter se voltado mais para o lado humano da personagem, em detrimento de suas faces sombria e sensual, Leona terminou criando uma Blanche contida, conflitante com a exuberância que a personagem exige e carente de explosão. Dona de um belo trabalho vocal que lhe dá domínio sobre entonações e pronúncias, e de uma fisionomia ainda mais bela, não consegue, por exemplo, transmitir o problema da idade que atormenta a personagem, e nem a intensidade necessária nos momentos violentos, principalmente ao final. É nessas horas que falta a citada explosão, que ainda parece controlada por uma atriz excessivamente técnica. Leona Cavalli é de fato uma das melhores de sua geração, mas pode melhorar mais. Tempo para isso ela tem de sobra. (M.L.)
Toda Nudez Será Castigada
Elenco inspirado aproxima universo rodrigueano do público
Cristian Avello Cancino
Divulgação
A atriz Leona Cavalli como a prostituta Geni: tragédia rodrigueana
Em Toda Nudez Será Castigada uma “mulher pública”, um viúvo rico e seu filho virgem vivem um triângulo amoroso que não poderia acabar bem.
Nessa tragédia carioca de Nelson Rodrigues, Leona Cavalli (Mistérios Gozosos, de Zé Celso) é Geni e Hélio Cícero (Paraíso Zona Norte, de Antunes Filho) é Herculano, interpretando sob a direção inspirada de Cibele Forjaz, que reestréia seu Toda Nudez... no Teatro Oficina.
Inspirada porque, além de transformar a platéia em palco (os espectadores sentam no chão e as cenas transcorrem no meio do público), a relação entre pai, filho e prostituta torna-se ainda mais angustiante e trágica, dada a proximidade do público com os atores.
Tudo começa quando, no plano da realidade, Herculano ouve uma gravação deixada por Geni. Ela conta as razões de seu suicídio, envolvidas em frustração e desejo não correspondido. Hélio Cícero faz tão bem o homem reprimido, o arcabouço de moral ambulante criado por Nelson, que às vezes é necessária uma concentração maior para poder compreender as frases timidamente sussurradas pelo ator.
Em flashback, Herculano tenta resgatar Geni da prostituição, ao mesmo tempo em que alimenta o ciúme de Serginho (Vadim Nikitin), o filho recluso que inveja o pai. A narração é circular, evolui num vai-e-vem angustiante até o desfecho mais rodrigueano possível, surpreendente. Homem reservado procura mulher pública
   EM BREVE
DEZ ANOS

Leituras Encenadas e Debates:

Toda Nudez será Castigada, de Nelson Rodrigues : Dias 13,14 e 15 (Filmagem) de Agosto. 

Um Bonde chamado desejo, de Tennessee Williams: 26, 27 e 28 (Filmagem) de Agosto.

Arena Conta Danton, de Georg Büchner. Adaptação de Fernado Bonassi: 10, 11 e 12(Filmagem) de Setembro. 

Vem Vai - O Caminho dos Mortos. Dramaturgia de Newton Moreno em processo colaborativo com a Cia. Livre: 24, 25 e 26(Filmagem) de Setembro.

Depois do Expediente: 8, 9 e 10 de Outubro.

Rua: Pirineus, 107. Campos Elísios. Próximo ao metrô Marechal Deodoro. (Rua paralela a Av. Angélica)

sábado, 29 de maio de 2010

CIA. LIVRE ESTUDA ÁFRICA/BRASIL


A Cia. Livre continua  sua pesquisa sobre a  temática morte. Agora, como eixo da pesquisa estudaremos África, Brasil e a Mestiçagem. Para quem quiser acompanhar nossos estudos (aulas de antropologia e história), leituras dramáticas e deglutições cênicas, é só acompanhar a agenda de trabalhos. É gratuíto.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Raptada pelo raio em temporada relâmpago!


FOTO : Lenise Pinheiro - Folha Imagem. Com Paulo Azevedo e Lúcia Romano.

FOLHA DE SÃO PAULO
São Paulo, domingo, 03 de maio de 2009

Cia. Livre reencontra os mitos indígenas Peça "Raptada pelo Raio" narra busca incansável de homem pela mulher amada

"Orfeu ameríndio" dirigido por Cibele Forjaz tem redes, público de olhos vendados e vídeos em tempo real; mote é dificuldade de aceitar a morte

LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Premiado painel dos ritos de morte do universo ameríndio, a peça "Vemvai - O Caminho dos Mortos" (2007) foi filha "de um susto, da perplexidade" de uma companhia diante da riqueza de um certo imaginário, segundo a diretora Cibele Forjaz.
O tal susto, ao invés de deter, estimulou a Livre a seguir adiante. Daí o parto de "Raptada pelo Raio", espetáculo em que o grupo presta nova visita aos mitos indígenas, desta vez concentrando-se em um deles, o de Kaná Kawã (do povo Marubo), sobre um homem que cruza o mundo à procura de sua amada, Maya.
Espécie de Orfeu autóctone, o personagem bate à porta de povos como o cegueira e o mentira para colher pistas do paradeiro da cara-metade. Antes, para transcender os limites do corpo, cumpre um ritual triplo: toma chá, fuma tabaco e come a língua de um pássaro.
O público embarca com ele de olhos vendados, acomodado nas redes abertas em pleno espaço cênico. A grande instalação que surge, com espectadores entregues às sugestões da audição, reféns do abstrato, remete às "Cosmococas" de Hélio Oiticica e Neville D'Almeida.
"Lidamos mesmo com a sinestesia, com uma estrutura um pouco "Alice no País das Maravilhas". E as referências a Oiticica e Lygia Clark são claras, naquilo que eles têm de devoração do universo ameríndio", diz Forjaz.
"Mas não queríamos que fosse só uma viagem lisérgica.
Buscamos uma travessia de linguagem", pondera ela, que leva à cena a dramaturgia de um estreante, o antropólogo Pedro Cesarino (em processo colaborativo com a companhia), consultor em "Vemvai".

Sociedade do espetáculo
O périplo levará o índio aos domínios do povo raio, nas franjas do céu. Como que para facilitar o acesso à terra estrangeira, ele tomará por um instante a forma delicada, discreta de um boneco de madeira -mais um achado do teatro lúdico da diretora.
No país raio, a profusão de néons, luzes estroboscópicas e vídeos (capturados em tempo real) sugere: Maya deve ter se enredado na teia da sociedade do espetáculo, com suas promessas plastificadas de felicidade e juventude eterna personificadas por um líder que encadeia slogans publicitários.
"O que esse homem diz é o que nos levou a começar a pesquisa: a relação difícil que a nossa sociedade tem com a morte, o fato de não a ritualizarmos, de a recusarmos e, com isso, negarmos vários índices de transformação, como a velhice, a doença e a dor. Tentamos fazer com que isso não seja uma caricatura, mas uma pergunta", explica Forjaz. "O mundo-imagem não só um índice negativo", frisa ela. "Não quisemos contrapor civilização e mito, homem branco e índio. São forças que só existem em contradição."
E que se encontram na inexorabilidade da morte. "A trajetória do personagem é de aprendizado, semelhante à de qualquer herói. Ele anda tudo aquilo como um luto, pois a morte é concreta, se impôs.
Não existe volta, só transformação", finaliza a diretora.


RAPTADA PELO RAIO Quando: sex. e sáb., às 21h; dom., às 19h; até 13/12
Onde: Casa Livre (r. Pirineus, 107, Barra Funda, tel. 3257-6652)
Quanto: público fixa valor do ingresso
Classificação: livre

Reestréia Raptada pelo Raio na Casa Livre