terça-feira, 8 de junho de 2010

Sinopse dos Espetáculos
Toda Nudez Será Castigada
A montagem do espetáculo Toda Nudez Será Castigada do dramaturgo Nelson Rodrigues narra o drama da prostituta de luxo Geni, do rico e casto viúvo Herculano e de seu filho Serginho virgem de 18 anos. Geni (Leona Cavalli), que recebe de Patrício a proposta de seduzir e casar-se com Herculano, que têm conceitos rígidos de vida se envolve com a prostituta provocando uma tragédia. É Geni morta quem narra a tragédia através de uma fita gravada que deixa para Herculano contando seu drama. A partir da narração de Geni, o viúvo vai recriando a história: o virgem Serginho por quem a prostituta se apaixona, o endividado e inescrupuloso Patrício e as três tias solteironas. Um profundo estudo da dramaturgia rodrigueana foi feita com palestras do crítico Sábato Magaldi e o escritor Ruy Castro. A peça é dirigida por Cibele Forjaz. A crítica paulista se entusiasmou com a montagem. Beth Néspoli, do Jornal O Estado de São Paulo, escreveu que: “a Cibele, aliada ao ótimo elenco, consegue recriar a atmosfera da exarcebação dos sentidos proposta pelo autor”. Quanto a Leona, Alberto Guzik do Jornal da Tarde diz: “ela está esplendorosa, esbanja presença de cena, é uma estrela”.
Um Bonde Chamado Desejo

De TENNESSEE WILLIAMS.
Direção: CIBELE FORJAZ.
Com
LEONA CAVALLI, MILHEM CORTAZ,
ISABEL TEIXEIRA, JOÃO SIGNORELLI.

Em cartaz no Teatro do SESC - Copacabana.

     A professora de Literatura Blanche DuBois acaba de chegar ao minúsculo apartamento de dois cômodos da irmã caçula Stella, casada com o viril militar Stanley Kowalski. Com o argumento de estar passando as férias, Blanche surpreende-se com a pobreza do lugar, em nada condizente com o descrito pela irmã nas cartas trocadas pelas duas. Surpreende-se ainda mais com Kowalski, sujeito grosseiro que desde o início demonstra hostilidade para com os hábitos requintados da cunhada e hóspede, com seus trajes caros e demorados banhos. A visita vai aos poucos revelando sua verdadeira razão de ser: com a fazenda da família perdida e atravessando uma crise tanto financeira quanto emocional, Blanche só está ali por não ter mais a quem recorrer, e enquanto recebe todo o apoio da irmã, que a adora, tem de agüentar a antipatia e a desconfiança do cunhado, que não apenas exige que lhe sejam mostrados os papéis da hipoteca da fazenda, mas passa a investigar-lhe o passado. Mas a presença de Harold Mitchell, solteirão bondoso e sensível que, numa das rodadas de cartas na casa de Kowalski, enamora-se da visitante, parece mudar o rumo das coisas e trazer alguma esperança para Blanche, que, após assistir a uma briga violenta entre o casal de anfitriões e descobrir que Stella está grávida, pensa em tirá-la dali, por mais que a irmã insista em que é feliz com o marido. A ambígua personalidade de Blanche, ora frágil, ora sedutora, junto às manchas do passado e o vício pelo álcool, serão novas fontes de conflito a encaminhar a história ao trágico desfecho.

     "A pouca sinceridade que ainda existe neste mundo é por conta das pessoas que já sentiram dor", diz Blanche num dos poucos momentos de ternura deste texto, que trata de sentimentos como culpa, solidão, carência, e do isolamento a que são relegados os malditos na sociedade. Autor de longos e profundos diálogos carregados de amarga sensibilidade, Tennessee Williams conhece bem o universo que escolheu para narrar. Filho de caixeiro viajante que teve de largar os estudos para trabalhar, dado a crises de nervos já na adolescência, homossexual, alcoólatra, testemunha de uma lobotomia sofrida pela irmã (e consentida pela mãe dominadora) que o marcaria pelo resto da vida, Williams alternaria sucessos e perdas, paixões e depressões. Sua obra, repleta de mulheres de personalidade forte, ambíguas, geralmente vítimas dos próprios sentimentos, é marcadamente autobiográfica, ao adaptar para o palco as personagens e vivências que tanto o encantaram e perturbaram, extremamente ousada e irresistivelmente sincera.

     A presente montagem é uma retomada da parceria da atriz e produtora Leona Cavalli com a diretora Cibele Forjaz, responsáveis pelo sucesso, em 2001, de Toda Nudez Será Castigada, de Nelson Rodrigues. Para o texto de Tennessee Williams, a diretora criou um interessante cenário com fitas brancas que erguem-se até o teto, formando as paredes "transparentes" que cercam o apartamento onde se desenrola a ação. Paredes que, quando a vida da protagonista parece não ter mais para onde descer, se retorcem diante da dupla agressão sofrida por Blanche, quando seu passado enfim vem à tona. É um recurso aparentemente simples, porém funcional e instigante, que, junto a seqüências como a do diálogo na penumbra (e outros mesmo na completa escuridão) realçam a carga dramática da história, que sustenta-se basicamente nos diálogos e nas interpretações.

     E é justamente nas interpretações que esse Bonde ameaça sair dos trilhos. Com a peça girando em torno da personagem de Leona Cavalli, fica a impressão de que todo o resto do elenco foi ignorado, inclusive um elemento de grande importância à trama como Kowalski. Interpretado no cinema e no teatro por Marlon Brando, e nos palcos londrinos por Laurence Olivier, a personagem cujo vigor deveria causar desejo e repulsa mal consegue, aqui, fazer rir. O desempenho de Milhem Cortaz chega mesmo a tornar-se constrangedor, principalmente nas cenas após a briga com Stella. O ator parece ter preferido seguir a descrição que Blanche faz de Kowalski, comparando-o a um macaco, do que humanizá-lo. João Signorelli esforça-se por fazer alguma coisa com seu Mitchell ingênuo e sensível, mas termina apagado, o que se evidencia na cena junto a Blanche, quando estão sozinhos no apartamento, ao final. Há ainda outros quatro atores que revezam-se em pequenos papéis que, se não chegam a comprometer o espetáculo, também não se destacam, e há Isabel Teixeira como Stella, essa sim obtendo um excelente resultado ao compor uma mulher cheia de nuances.

     Quanto a Leona Cavalli, a quem a crítica vem dedicando elogios desde Toda Nudez... , sua composição de Blanche DuBois parece mais uma adaptação à sua própria figura ou personalidade. Afirmando ter se voltado mais para o lado humano da personagem, em detrimento de suas faces sombria e sensual, Leona terminou criando uma Blanche contida, conflitante com a exuberância que a personagem exige e carente de explosão. Dona de um belo trabalho vocal que lhe dá domínio sobre entonações e pronúncias, e de uma fisionomia ainda mais bela, não consegue, por exemplo, transmitir o problema da idade que atormenta a personagem, e nem a intensidade necessária nos momentos violentos, principalmente ao final. É nessas horas que falta a citada explosão, que ainda parece controlada por uma atriz excessivamente técnica. Leona Cavalli é de fato uma das melhores de sua geração, mas pode melhorar mais. Tempo para isso ela tem de sobra. (M.L.)
Toda Nudez Será Castigada
Elenco inspirado aproxima universo rodrigueano do público
Cristian Avello Cancino
Divulgação
A atriz Leona Cavalli como a prostituta Geni: tragédia rodrigueana
Em Toda Nudez Será Castigada uma “mulher pública”, um viúvo rico e seu filho virgem vivem um triângulo amoroso que não poderia acabar bem.
Nessa tragédia carioca de Nelson Rodrigues, Leona Cavalli (Mistérios Gozosos, de Zé Celso) é Geni e Hélio Cícero (Paraíso Zona Norte, de Antunes Filho) é Herculano, interpretando sob a direção inspirada de Cibele Forjaz, que reestréia seu Toda Nudez... no Teatro Oficina.
Inspirada porque, além de transformar a platéia em palco (os espectadores sentam no chão e as cenas transcorrem no meio do público), a relação entre pai, filho e prostituta torna-se ainda mais angustiante e trágica, dada a proximidade do público com os atores.
Tudo começa quando, no plano da realidade, Herculano ouve uma gravação deixada por Geni. Ela conta as razões de seu suicídio, envolvidas em frustração e desejo não correspondido. Hélio Cícero faz tão bem o homem reprimido, o arcabouço de moral ambulante criado por Nelson, que às vezes é necessária uma concentração maior para poder compreender as frases timidamente sussurradas pelo ator.
Em flashback, Herculano tenta resgatar Geni da prostituição, ao mesmo tempo em que alimenta o ciúme de Serginho (Vadim Nikitin), o filho recluso que inveja o pai. A narração é circular, evolui num vai-e-vem angustiante até o desfecho mais rodrigueano possível, surpreendente. Homem reservado procura mulher pública
   EM BREVE
DEZ ANOS

Leituras Encenadas e Debates:

Toda Nudez será Castigada, de Nelson Rodrigues : Dias 13,14 e 15 (Filmagem) de Agosto. 

Um Bonde chamado desejo, de Tennessee Williams: 26, 27 e 28 (Filmagem) de Agosto.

Arena Conta Danton, de Georg Büchner. Adaptação de Fernado Bonassi: 10, 11 e 12(Filmagem) de Setembro. 

Vem Vai - O Caminho dos Mortos. Dramaturgia de Newton Moreno em processo colaborativo com a Cia. Livre: 24, 25 e 26(Filmagem) de Setembro.

Depois do Expediente: 8, 9 e 10 de Outubro.

Rua: Pirineus, 107. Campos Elísios. Próximo ao metrô Marechal Deodoro. (Rua paralela a Av. Angélica)

sábado, 29 de maio de 2010

CIA. LIVRE ESTUDA ÁFRICA/BRASIL


A Cia. Livre continua  sua pesquisa sobre a  temática morte. Agora, como eixo da pesquisa estudaremos África, Brasil e a Mestiçagem. Para quem quiser acompanhar nossos estudos (aulas de antropologia e história), leituras dramáticas e deglutições cênicas, é só acompanhar a agenda de trabalhos. É gratuíto.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Raptada pelo raio em temporada relâmpago!


FOTO : Lenise Pinheiro - Folha Imagem. Com Paulo Azevedo e Lúcia Romano.

FOLHA DE SÃO PAULO
São Paulo, domingo, 03 de maio de 2009

Cia. Livre reencontra os mitos indígenas Peça "Raptada pelo Raio" narra busca incansável de homem pela mulher amada

"Orfeu ameríndio" dirigido por Cibele Forjaz tem redes, público de olhos vendados e vídeos em tempo real; mote é dificuldade de aceitar a morte

LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Premiado painel dos ritos de morte do universo ameríndio, a peça "Vemvai - O Caminho dos Mortos" (2007) foi filha "de um susto, da perplexidade" de uma companhia diante da riqueza de um certo imaginário, segundo a diretora Cibele Forjaz.
O tal susto, ao invés de deter, estimulou a Livre a seguir adiante. Daí o parto de "Raptada pelo Raio", espetáculo em que o grupo presta nova visita aos mitos indígenas, desta vez concentrando-se em um deles, o de Kaná Kawã (do povo Marubo), sobre um homem que cruza o mundo à procura de sua amada, Maya.
Espécie de Orfeu autóctone, o personagem bate à porta de povos como o cegueira e o mentira para colher pistas do paradeiro da cara-metade. Antes, para transcender os limites do corpo, cumpre um ritual triplo: toma chá, fuma tabaco e come a língua de um pássaro.
O público embarca com ele de olhos vendados, acomodado nas redes abertas em pleno espaço cênico. A grande instalação que surge, com espectadores entregues às sugestões da audição, reféns do abstrato, remete às "Cosmococas" de Hélio Oiticica e Neville D'Almeida.
"Lidamos mesmo com a sinestesia, com uma estrutura um pouco "Alice no País das Maravilhas". E as referências a Oiticica e Lygia Clark são claras, naquilo que eles têm de devoração do universo ameríndio", diz Forjaz.
"Mas não queríamos que fosse só uma viagem lisérgica.
Buscamos uma travessia de linguagem", pondera ela, que leva à cena a dramaturgia de um estreante, o antropólogo Pedro Cesarino (em processo colaborativo com a companhia), consultor em "Vemvai".

Sociedade do espetáculo
O périplo levará o índio aos domínios do povo raio, nas franjas do céu. Como que para facilitar o acesso à terra estrangeira, ele tomará por um instante a forma delicada, discreta de um boneco de madeira -mais um achado do teatro lúdico da diretora.
No país raio, a profusão de néons, luzes estroboscópicas e vídeos (capturados em tempo real) sugere: Maya deve ter se enredado na teia da sociedade do espetáculo, com suas promessas plastificadas de felicidade e juventude eterna personificadas por um líder que encadeia slogans publicitários.
"O que esse homem diz é o que nos levou a começar a pesquisa: a relação difícil que a nossa sociedade tem com a morte, o fato de não a ritualizarmos, de a recusarmos e, com isso, negarmos vários índices de transformação, como a velhice, a doença e a dor. Tentamos fazer com que isso não seja uma caricatura, mas uma pergunta", explica Forjaz. "O mundo-imagem não só um índice negativo", frisa ela. "Não quisemos contrapor civilização e mito, homem branco e índio. São forças que só existem em contradição."
E que se encontram na inexorabilidade da morte. "A trajetória do personagem é de aprendizado, semelhante à de qualquer herói. Ele anda tudo aquilo como um luto, pois a morte é concreta, se impôs.
Não existe volta, só transformação", finaliza a diretora.


RAPTADA PELO RAIO Quando: sex. e sáb., às 21h; dom., às 19h; até 13/12
Onde: Casa Livre (r. Pirineus, 107, Barra Funda, tel. 3257-6652)
Quanto: público fixa valor do ingresso
Classificação: livre

Reestréia Raptada pelo Raio na Casa Livre

Raptada pelo Raio




DRAMA
     Raptada Pelo Raio - Poema Cênico De Amor E Morte

www.guiadasemana.uol.com.br
     

Homem cruza diversas regiões do mundo para resgatar sua mulher em peça da Cia. Livre









EDITORIAL


Inspirada na lenda Kaná Kawã, do povo indígena marubo, a peça Raptada Pelo Raio - Poema Cênico De Amor E Morte conta a história de um homem que cruza regiões do mundo na tentativa de recuperar sua mulher, raptada por um raio. Essa é a segunda vez que a relação de índios com a morte se torna pano de fundo para um espetáculo da Cia. Livre.

A montagem, com direção de Cibele Forjaz, se assemelha ao mito grego de Orfeu, que atravessa os limites do amor, da impossibilidade e do mundo existente entre vivos e mortos para resgatar um ente querido. O público é convidado a experimentar sensações e mergulhar na história, ora deitando em redes e fechando os olhos, ora estimulado pela luz, olfato e vozes dos atores.

Ficha Técnica
Dramaturgia: Pedro Cesarino em processo colaborativo com a Cia. Livre
Direção: Cibele Forjaz
Elenco: Lúcia Romano, Edgar Castro, Christian Amêndola Moleiro e Paulo Azevedo
Preparação corporal: Juliana Monteiro e Tica Lemos
Iluminação: Alessandra Domingues
Direção de arte (cenário e figurinos): Simone Mina
Direção musical e composição original: Lincoln Antônio
Direção vocal e pesquisa de sonoridades: Lucia Gayotto
Produção e Administração: Eneida de Souza

Foto: Divulgação / Cacá Bernardes


Peça de teatro em cartaz em SP faz alusão indireta a ayahuasca

por Bia  Labate


COM DIREÇÃO DE CIBELE FORJAZ, CIA LIVRE ESTREIA RAPTADA PELO RAIO
Neste final de semana assiti um interessante espetáculo baseado num mito Marubo, traduzido e adaptado do original para teatro por meu colega Pedro Cesarino, antropólogo estudioso das artes poéticas deste povo. A peça faz referência mais ou menos direta a duas substâncias psicoativas: a ayahuasca e o tabaco, presenças clássicas do xamanismo Amazônico. Também é citada uma ”língua de um pássaro”, que, até onde conseguir investigar, não é psicoativa. Segundo Pedro, essa seria utilizada no xamanismo marubo ”para obter o “chinã”, princípio vital/potência do pássaro, ou para fazer com que o duplo/espírito deste se torne familiar/auxiliar do xamã. ”
Na platéia, conheci um músico que participou das antigas e dionisíacas experiências do teatro Oficina que utilizou a ayahuasca nos ensaios e apresentações da peça As Bacantes, e Os Sertões, um autêntico capítulo da história urbana da ayahuasca no Brasil, o qual ainda foi muito pouco explorado. O espetáculo procura trazer algo destes mundos invisíveis e outros. Numa das cenas, o espectador têm os seus olhos tapados com uma máscara tipo de avião, com uma areinha dentro. Isto me lembrou um recente programa que fiz na Alemanha, onde visitei o Schloss Freundenberg. Aí, talvez a atração mais especial seja uma das salas em que o público é conduzido a um bar, e tem os seus olhos vendados, sendo atendido por um garçom cego. Podiamos escolher entre um café, cappucino ou um suco ou bebida desconhecida. Ao abrir o olho não era possível ver nada, só um vazio preto que terminava por nos confundir onde era o limite entre o “eu” e o “espaço externo”. Parece que a nossa sociedade, marcada pela hegemonia do sentido da visão, procura cada vez mais alteridades sensoriais onde “o não ver” possa revelar “outras formas de ver”…
Recomendo o programa. Segue abaixo o release oficial do espetáculo.
Após VemVai – O Caminho dos Mortos (vencedor de dois prêmios Shell –
melhor direção para Cibele Forjaz e atriz para Lúcia Romano),  a
Cia Livre continua a abordar as relações entre morte e vida através das perspectivas de povos ameríndios. O espetáculo é uma livre recriação
do mito Kaná Kawã (mito-canto do povo Marubo) e continua com o
 “Pague Quanto Der”, onde não há preço de ingresso definido e o
público paga quanto quiser e puder pela apresentação
Uma experiência cênico-sensorial é o que promete RAPTADA PELO RAIO, a nova montagem da Cia. Livre, que estreia dia 1º de maio, sexta-feira, às 21 horas, na Casa Livre, espaço próprio do Grupo. Sob a direção de Cibele Forjaz e dramaturgia de Pedro Cesarino, em processo colaborativo com a Cia. Livre, o espetáculo tem música original de Lincoln Antonio, direção de Arte de Simone Mina e luz de Alessandra Domingues. No elenco estão Lúcia Romano, Edgar Castro, Christian Amêndola Moleiro e Paulo Azevedo (um dos fundadores do Grupo Espanca!, especialmente convidado para a peça).
Marcado pelo lirismo e pela tradição oral, RAPTADA PELO RAIO conta uma história de amor e morte. Um Homem passa por diversas regiões do mundo (povo nuvem, povo podre, povo violência, povo água e gente cegueira, entre outros) na tentativa de resgatar sua mulher, Maya, raptada pelo raio. Termina por se deparar com os limites impostos por sua própria condição, nesta que é mais uma variante do famoso mito de Orfeu. Temas como a separação entre vivos e mortos e os limites do amor e a impossibilidade, são tratados com uma linguagem dinâmica, em que atores se misturam aos personagens para traçar um percurso narrativo, neste poema cênico dedicado aos dilemas do tempo e da passagem.
RAPTADA PELO RAIO traduz os conflitos resultantes das relações perigosas entre a diversidade de mundos que co-existem na narrativa, por meio de uma experiência cênico-sensorial que multiplica os pontos de vista da platéia. Em alguns momentos o público é convidado a deitar em redes e fechar os olhos, abrindo os ouvidos para a narrativa. Em outros, o estímulo visual cria diferentes planos de realidade. A música conduz as personagens, a luz e o olfato criam atmosferas. Desta forma o espetáculo propõe ao público uma viagem sinestésica, que abre as portas da imaginação.
Contemplado com o Programa de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo, o espetáculo também continua com o “Pague Quanto Der”, em que não haverá preço fechado de ingresso, ou seja, cada pessoa paga quanto puder e quiser pela apresentação.
Universo fantástico e poético
A diretora Cibele Forjaz conta que depois de VemVai – O Caminho dos Mortos, onde a pesquisa sobre a morte norteou uma montagem com várias histórias, RAPTADA PELO RAIO constitui-se como uma narrativa que conta uma única  história, mais simples e mais lúdica. “Depois da perplexidade com a complexidade proposta pelo universo indígena, encontrada em Vem Vai, neste novo espetáculo conseguimos chegar a uma narrativa mais simples e ao mesmo tempo mais elaborada, com foco maior no mito. RAPTADA PELO RAIO é uma brincadeira teatral, uma fábula que propõe ao público uma viagem através de mundos paralelos, guiada pelo amor e sua busca de atravessar os limites do humano. A encenação, por sua vez, busca traduzir o fantástico através das sensações”, explica ela. “Com Vem-Vai, abrimos uma porta e olhamos através dela, agora, conseguimos atravessar para o lado de lá. Com certeza é um espetáculo mais poético.”
Apesar do tema da montagem ter uma base ameríndia, a história de RAPTADA PELO RAIO é universal. “É um conto de tradição oral igual a fábulas gregas, egípcias, romanas e japonesas”, conta o dramaturgo Pedro Cesarino. “É uma história narrada e cantada.” Por isso, Cibele decidiu que o espetáculo seria um musical diferente. “Queremos contar uma história que aborda um tema difícil, a morte, de um jeito simples, como nas fábulas”, conta a diretora.
Criada pelo músico Lincoln Antônio, as composições não possuem referências diretas ao universo indígena. “Minha intenção foi criar uma música que não existe. Procurei diluir todas as informações do espetáculo num caldeirão sonoro”, explica ele, lembrando ainda que a encenação terá um piano ao vivo. Baldes, bacias, funis, canos e outros objetos viram chapéus, escudos, máscaras e instrumentos sonoros, que interagem com os figurinos e cenários criados por Simone Mina e sua equipe. Para Cibele, o espetáculo, acima de tudo, busca a teatralidade em todos os sentidos.

Parceria com a plateia
A direção de Cibele Forjaz tem como fio o jogo explícito entre plateia e atores. “Minha intenção é contar um história e deixar o público imaginar, evocando uma nova experiência. Por isso a direção de arte, iluminação e música possuem espaços ampliados nessa montagem. Teremos 28 redes onde as pessoas poderão sentar e até deitar, para que elas possam vivificar junto conosco a saga deste homem em busca de sua mulher, Maya, a estrela da tarde. Queremos proporcionar uma vivência sensorial e poética, pois o texto contempla essa licença. Com certeza é um espetáculo que se completa com a participação estrutural da imaginação da platéia”, explica a diretora. “Vamos aguçar outros sentidos do público presente. Nossa intenção é que tudo vire uma gostosa brincadeira, conduzindo o público através do rio do mito, que atinge de forma simples camadas profundas da nossa existência. Cabe agora aos espectadores se deixarem levar nessa viagem teatral”, espera Cibele.

“Pague quanto der”
A diretora da Cia. Livre, Cibele Forjaz acha injusto que uma pessoa deixe de ir ao teatro porque não pode desembolsar o valor exato afixado na bilheteria. Por isso, a Cia. Livre lançou, em 2004, durante a sua ocupação do Teatro de Arena Eugênio Kusnet, a campanha do “pague quanto der”. O próprio nome já diz: é o espectador quem decide quanto pode pagar pelo ingresso. “Para as pessoas que estão em dúvida diante dessa liberdade de escolha, sugerimos que pensem num meio termo entre o que vale uma noite no teatro e o que podem gastar. Assim, todos só temos a ganhar – tanto os espectadores, que compram o ingresso na medida do seu bolso, quanto nós, artistas de teatro, que precisamos da bilheteria para continuar trabalhando. Em lugar do preço fixo e da burocracia de meias-entradas, descontos e convites, preferimos criar uma troca direta de generosidades”, explica Cibele, afirmando ainda que “pague quanto der” é ingresso e não contribuição.
Sobre a Cia. Livre
A Cia. Livre deve o seu nome a um desejo tão florido quanto espinhoso: constelar em trupe um bando de artistas que renegam diretores permanentes e ao mesmo tempo revezam funções conforme a bola da vez. A nascente da Cia. foi o Estudo Público das Tragédias Cariocas de Nelson Rodrigues (1999) e daí surgiu um par de montagens: Toda Nudez Será Castigada! (2000/02) e Os 7 Gatinhos (2000/01). Para continuar os trabalhos da Cia. Livre, Cibele Forjaz escolhe montar, em 2002, o espetáculo Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee Williams, enquanto Gustavo Machado escreve e dirige Pagarás Com Tua Alma (2000/04) e De Quatro (2004/07). Vadim Nikitin escreve e dirige O Nome da Peça depende da Lua (2004) e Dostoiévski (ou 3497 Rublos e Meio), em 2005.
Em 2004, a Cia. Livre ocupou o Teatro de Arena com dois projetos que ligam história a teatro: O projeto Arena Conta Arena 50 Anos, sob direção geral de Isabel Teixeira, que resgatou através de Depoimentos, palestras e leituras dramáticas à história e as memórias do Teatro de Arena, nascedouro do teatro de grupo paulista, e a montagem de Arena Conta Danton, livre recriação de A Morte de Danton, de Georg Büchner, com dramaturgia de Fernando Bonassi, em processo colaborativo com a Cia. Livre. O projeto virou uma exposição no Instituto Tomie Ohtake, permanecendo três meses em cartaz, onde no Grande Hall e nas três salas ocupadas, o Arena se contava em outro contexto, levando ao público uma experiência teatral fora das salas de teatro. O espetáculo Arena Conta Danton viajou sem parar até girar para além das fronteiras brasileiras, em Berlim, na Copa da Cultura de 2006. Em 2008 a Cia. mergulha no universo ameríndio e encena VemVai – O Caminho dos Mortos, recebendo o Prêmio Shell de direção (Cibele Forjaz) e atriz (Lúcia Romano). O espetáculo inaugura, em 2009, a Casa Livre, sede do grupo localizada na Barra Funda.

Para roteiro:
RAPTADA PELO RAIO – Estreia dia 1º de maio, sexta-feira, às 21 horas, na Casa Livre. Dramaturgia – Pedro Cesarino em processo colaborativo com a Cia. Livre. Direção – Cibele Forjaz. Elenco – Lúcia Romano, Edgar Castro, Christian Amêndola Moleiro e Paulo Azevedo. Preparação corporal – Juliana Monteiro e Tica Lemos. Iluminação – Alessandra Domingues. Direção de arte (cenário e figurinos) – Simone Mina. Direção musical e composição original – Lincoln Antônio. Direção vocal e pesquisa de sonoridades – Lucia Gayotto. Produção e Administração – Eneida de Souza. Duração – 90 minutos. Espetáculo Livre. Temporada – Sextas-feiras e sábados às 21 horas e domingos às 19 horas. Ingressos – “Pague quanto der”. Até 28 de junho.
Sinopse: O espetáculo conta a saga de um Homem que passa por diversos povos na tentativa de resgatar sua esposa, Maya, raptada pelo raio. Temas como a separação entre vivos e mortos e os limites do amor e a impossibilidade, são tratados com lirismo neste poema cênico. Com uma linguagem dinâmica, em que atores se misturam aos personagens, a montagem é uma variante do mito de Orfeu.
CASA LIVRE – Rua Pirineus, 107 – Barra Funda (próximo a estação de metrô Marechal Deodoro). Informações – (11) 3257-6652. Acesso para deficientes físicos. Bilheteria – Abre duas horas antes do espetáculo. Capacidade – 28 lugares.
Assessoria de Imprensa
Frederico Paula – MTb-SP: 28.319
(11) 9658-3575

Temporada de VemVai na Casa Livre

DE 4 DE FEVEREIRO A 12 DE ABRIL DE 2009

Estudo Cênico 3 - O Idiota

Juntamente com a Cia Mundana / Teatro do Cujo, fizemos o terceiro estudo baseado na obra "O Idiota", de Dostoiévski.



(Fotos abaixo: Nelson Kao)

































































Estudo Cênico 2 - Raptada pelo Raio





Dando continuação ao estudo da Cia Livre sobre a relação Teatro e Ritual, a cia decidiu montar esse texto, parte do imenso material que ficou de fora da montagem final de "VemVai - O Caminho dos Mortos".












Foram aulas do antropólogo e dramaturgo Pedro Cesarino, que
foram sucedidas depois por treinamentos específicos com os preparadores Juliana Jardim, Juliana Monteiro, Raquel Ornellas e Lúcia Gayotto, abertos ao público.



Estes treinamentos, dados sob a forma de imersões dos atores ao longo das tardes, eram bases para as improvisações que se tornariam cenas apresentadas durante a noite.


Cada noite as cenas eram diferentes, baseadas em cada aspecto surgido das improvisações que mereciam desenvolvimento.


fotos abaixo: Diego Garcia














fotos acima: Diego Garcia